O simples e o complexo

Média ou Extremos?
Nassim Taleb é escritor, autor do bestseller “Black Swan”, mas também é filósofo, e trader! Ele já operou derivativos na bolsa de Chicago e hoje dirige a “asset” Empirica, onde aplica (na prática dos mercados) a idéia de que os extremos ocorrem com maior freqüência que a vã filosofia ou matemática admitem. Quando um fato ou um movimento extremo acontece, o ganho obtido supera em muitas vezes a rotina das pequenas, mas freqüentes perdas.
Victor Niederhoffer também é escritor (“Education of a Speculator”), foi campeão de “squash” e um famoso trader de derivativos. Victor pensa exatamente o oposto de Nassim, ele acredita na média e despreza os extremos. Ele se dá bem a maior parte do tempo, mas ocasionalmente e de forma contundente, pode perder muito e ir à bancarrota (o seu pesadelo foi a crise na Ásia em 1997 e a crise imobiliária, ainda em 2007!).
Nassim despreza e Victor venera a “curva do sino”, ou de modo mais formal, a curva da distribuição normal. No mundo acadêmico, os principais modelos matemáticos de distribuição de preços são baseados na curva normal (o exemplo mais famoso é o modelo de precificação de opções de Black&Scholes).  Nassim não acredita na aplicação da curva normal como modelo de comportamento dos preços e aposta contra ela. Victor acredita que a probabilidade de ocorrência dos extremos (indicada pela curva normal) é muito pequena e sempre aposta no “retorno à média”. O preço atingiu um extremo?  É uma questão de tempo, vai retornar à média!

Curto ou Longo Prazo?
Você sabe quantas jogadas futuras um mestre calcula ao analisar uma posição no tabuleiro de xadrez?  Um grande jogador já disse que “enxerga” apenas o próximo lance, que o mais importante não é prever os próximos lances, é saber avaliar bem a posição atual do tabuleiro (estou ganhando ou perdendo?). Se você entender o que está acontecendo (identificar as principais forças e fraquezas, sejam temporárias ou permanentes) no jogo e agir de acordo, não precisará calcular muitos lances à frente. Afinal, de que vale fazer projeções futuras a partir de uma percepção errada da realidade atual?
No jogo do xadrez ou na guerra real (ou na bolsa!), entender os conceitos de estratégia e tática é fundamental. O plano estratégico tem caráter mais permanente, menos preciso e de longo prazo, enquanto o plano tático é temporário, mais preciso e de curto prazo. Um grande mestre de xadrez domina plenamente os dois elementos, um depende do outro, um bom plano estratégico gera as boas oportunidades táticas. O inverso dificilmente acontece daí a necessidade de pensar primeiramente o plano estratégico: pensar no longo prazo sem deixar de agir no curto prazo. Para o investidor em ações o objetivo deve ser o ganho no longo prazo, mas operando com freqüência no curto prazo. Ele se expõe a um número maior de oportunidades (vantagem competitiva!) e ao mesmo tempo reduz o seu risco (claro que dá mais trabalho!).

 Candle ou Bollinger?
O Candlestick é uma técnica japonesa (século XVIII!) de representação do preço. A cultura oriental favorece a percepção intuitiva da realidade; um dos exemplos é a escrita japonesa (“kanji”) cujos “desenhos” (padrões) descrevem o objeto ou o significado associado a cada palavra. Outra característica é a complexidade construída a partir de elementos simples e fundamentais (jogo do GO, veja a foto), o que induz a um processo de aprendizado que só ocorre através da prática repetitiva; a aquisição do conhecimento e o domínio da técnica são um processo individual de tentativa e erro (técnica zen do arco e flecha).
Os padrões candlestick traduzem o sentimento ou o aspecto comportamental de curto prazo, e por tanto podem mudar rapidamente. Neste aspecto a flexibilidade é fundamental, mas sem perder a visão global e mais permanente do conjunto de padrões. Por outro lado a natureza tática do candlestick pode ser determinante na identificação de níveis de suporte e resistência, e pontos de entrada e saída de uma operação.
As bandas de Bollinger representam a aplicação do modelo “curval normal” na análise técnica. Associado à idéia da média e dos extremos está o importante conceito de volatilidade, o movimento direcional dos preços (oportunidade de negócio) depende do aumento da volatilidade (observada na compressão e expansão das bandas). O conceito implícito de “desvio padrão” (distância ou variação em relação à média) é uma medida da probabilidade de um novo movimento do preço.
As bandas são precisas (ao contrário dos padrões do candlestick) pois são o resultado de um cálculo estatístico, e mais permanentes pois dependem de todas as observações de uma série histórica de preços (o mais comum é a média de 20 dias). As bandas têm um caráter mais estratégico no sentido de determinar uma tendência, e gerar um posicionamento com a expectativa de atingir objetivos de longo prazo.

Yin e Yang
É possível conciliar Nassim e Victor, longo e curto prazos, estratégia e tática, candles e Bollinger?  Ocidente e Oriente?
O princípio da dualidade Yin e Yang (princípio da filosofia taoísta) é uma metáfora (?) que pode ser aplicada na análise técnica. Sim, é possível achar um ponto de equilíbrio e complementaridade entre conceitos aparentemente opostos.